quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Pipa #Nostalgia

Levados pelos ventos, esses objetos surgiram na China, serviram para as guerras, mas embalam sonhos de crianças e adultos de todo o mundo. 
Quantas vezes você já viu um vendedor de ‘pipas’ em uma praia, cercado por garotos? Provavelmente muitas. É como se fosse um ímã. As ‘pipas’, ou ‘papagaios’ de papel, exercem uma influência mágica sobre as crianças. Mas, não só sobre elas. Basta constatar que os pais sempre são os primeiros a incentivar a compra de ‘pipas’ para os filhos. E eles não escondem ter um prazer enorme ao ensinar, tim-tim por tim-tim, a arte de ‘empinar’ aos meninos e meninas. Pelo simples fato de que assim agindo estarão novamente em contato com esse incrível brinquedo, esse brinquedo mágico, retratado em várias telas de Cândido Portinari. Voltarão ao passado, à infância, às recordações... 
Quando criança, no bairro Cidade Vargas, Zona Sul de São Paulo, passava horas empinando ‘pipas’, costume que mantive também na adolescência. Muito tempo depois, quando minhas duas filhas eram crianças, ensinei-as a brincar com esses ‘papagaios’ nas praias e nos gramados da Cidade Universitária, na USP. Uma das vezes essa diversão foi compartilhada com o meu saudoso amigo, o jornalista Miguel Dias, e suas filhas. Agora, não vejo a hora de meus dois netos crescerem para que eu possa voltar à inesquecível curtição de empinar ‘pipas’. 
Ah, como é bom ‘empinar’ esses objetos coloridos e nervosos, que irradiam energia, alegria e beleza quando riscam o céu, embalados pelos ventos! Conduzir ‘pipas’ dá um grande prazer. É o clímax, principalmente quando o brinquedo é construído em casa, após toda aquela nervosa concentração que vai da compra do papel de seda, do preparo das varetas de bambu ou de madeira leve, da amarração com as linhas formando uma figura geométrica, até o corte e a colagem do papel à armação e a inclusão do ‘rabo’. 
Existe hoje uma verdadeira legião de apaixonados por ‘pipas’. Quarentões que na infância correram (e caíram) muito tentando (e ao fim conseguindo) ‘empinar’ seus ‘papagaios’ – antigo nome genérico para todo e qualquer artefato que voasse. Já ‘pipa’, sempre foi nome específico para o brinquedo feito com três varetas, que também era conhecido por ‘laçador’ ou ‘caçador’. Normalmente tinha um ‘rabo’, geralmente muito longo, difícil e chato de fazer. Nada conseguia fazer subir uma ‘pipa’ com uma ‘armação’ mal feita. O bom ‘empinador’ era aquele que fazia um bom ‘quadrado’ (outra denominação), contam os experts, hoje trocando impressões e passando informações por meio da Internet. 
Se os meninos empinavam ‘pipas’, as meninas brincavam com as ‘raias’ ou ‘arraias’, armações com duas varetas, grandes e sem ‘rabo’, incapazes de fazer manobras. “Absolutamente insossas, verdadeiros brinquedos de meninas, que subiam com qualquer assopro de vento”, de acordo com a opinião dos veteranos de hoje. Das ‘raias’ derivava o ‘peixinho’, uma ‘raia’ menor, com ‘rabo’ (geralmente muito longo), que permitia manobras. E havia ainda a ‘capucheta’, um ‘papagaio’ feito de uma única folha de jornal, sem varetas. Também existia ainda um tipo de ‘papagaio’ muito grande, de forma hexagonal ou octogonal, com ‘rabo’ de pano: era a ‘barraca’, que necessita de vento forte e constante. O grande sonho de todo moleque era aprender a construir ‘papagaios’ do tipo ‘caixa’ ou ‘caixote’, verdadeiras obras de arte na época. 
Os garotos sempre curtiram as manobras feitas com golpes na linha, que provocava o mergulho da ‘pipa’ em direção ao solo. Esse mergulho só era interrompido quando se soltava mais linha. O bom ‘empinador’ era aquele que fazia o ‘papagaio’ quase bater no chão, para só aí ‘dar linha’, fazendo com que ele voltasse a subir. As manobras eram usadas também para cortar a linha de outras ‘pipas’. As linhas eram preparadas com uma mistura de vidro moído e cola (o perigoso ‘ceról’), tornando-se verdadeiras navalhas. Mas, se cortavam a linha de outras ‘pipas’, também cortavam a mão de quem usava esse preparado. 




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